Dia das Mães
Gracindo Junior
(Poema de Ghiaroni)
Mãe
Eu volto a te ver na antiga sala onde uma noite te deixei sem fala
Dizendo adeus como quem vai morrer e me viste sumir pela neblina
Porque a sina das mães é está sina
Amar, cuidar, criar e depois perder
Perder o filho é como achar a morte
Perder o filho quando grande e forte
Já podia ampará-la e compensá-la
Mas neste instante uma mulher bonita sorrindo a rouba
E a velha mãe aflita ainda se volta para abençoá-lo
Assim parte e me abençoaste
Fui esquecer o bem que me ensinaste
Fui para o mundo me deseducar
E Tu ficaste no silêncio frio
Olhando o leito que eu deixei vazio
Cantando uma cantiga de ninar
Hoje volto coberto de poeira e te encontro quietinha na cadeira
A cabeça pendida sobre o peito
Quero beijar-te a fronte e não me atrevo
Quero acordar-te mas não sei se devo
Não sinto que me cabe esse direito
O direito de dar esse desgosto
De mostrar nas rugas do meu rosto
Toda miséria que me aconteceu
E quando vires a expressão horrível
Da minha máscara irreconhecível
Minha voz rouca murmurar
Sou eu
Eu bebi na taverna dos cretinos
Eu brandi o punhal dos assassinos
Eu andei pelos braços dos canalhas
Eu fui jogral em todas as comédias
Eu fui vilão em todas as tragédias
Eu fui covarde em todas as batalhas
Eu te esqueci
As mães são esquecidas
Vivi a vida
Vivi muitas vidas
Só agora quando chego ao fim
Traído pela última esperança
E só agora quando a dor me alcança
Lembro quem nunca se esqueceu de mim
Não devo voltar
Ser esquecido
Mas que foi?
De repente ouço um ruído
A cadeira rangeu
É tarde agora
Minha mãe se levanta abrindo os braços
E me envolvendo num milhão de abraços
Rendendo graças diz:
- Meu filho...e chora...treme...e chora
E como fala...e ri
E parece que Deus entrou aqui
Em vez do último dos condenados
E o seu pranto rolando em minha face
Quase como se o céu me perdoasse
Me limpasse de todos os pecados
Mãe... nos teus braços eu me transfiguro
Lembro que fui criança, que fui puro
Mãe...sim tenho mãe
E esta aventura é tanta que eu compreendo o que significa
O filho é pobre, mas a mãe é rica
O filho é homem, mas a mãe é santa
Santa que eu fiz envelhecer sofrendo
Mas que beija como agradecendo
Toda dor que por mim te foi causada
Dos mundos onde andei
Nada te trouxe
Mas tu me olhas num olhar tão doce
Que nada tendo não te falta nada
Dia das mães é o dia da bondade
Maior que todo o mal da humanidade
Purificada no amor segundo
Por mais que o homem seja um mesquinho
Enquanto a mãe cantar junto a um bercinho
Cantará a esperança para o mundo